LITERATURA CEARENSE: Uma Vida, Uma Missão (Por Pe. Gonçalo de Pinho Gomes*)

                


Nasci em Poranga-Ce, no dia 28 de março de 1936. Sou filho de Raimundo Gomes Elesbão e Maria Rodrigues de Pinho. Meu pai foi agricultor e depois comerciante. Exerceu também as funções públicas de vereador em Ipueiras e Poranga e de prefeito em Poranga. 
Minha mãe ocupava-se com os trabalhos da casa, com a educação dos filhos e colaborava com meu pai nas atividades comerciais e políticas. Eu era pequeno, lembro-me bem, comecei a estudar em minha terra natal. Naquela época, a preocupação com a educação e com o ensino parecia mais uma iniciativa privada, um esforço dos pais do que obrigação do poder público. Tive alguns professores que marcaram a minha vida de estudante e de professor. Fiz a alfabetização em Poranga com a professora Ester Mourão, mãe do renomado escritor ipueirense Gerardo Melo Mourão. Ainda em Poranga, iniciei, em 1943, o curso primário sob a orientação do professor Zequinha Malaquias. Já em Ipueiras, fui aluno do Educandário Nossa Senhora da Conceição onde, em 1948, concluí o referido curso, recebendo sólida formação dos professores Matos, Mundita e Luizinha Mendes. 
 No meu tempo de criança, em Poranga, tive como amigos e colegas, entre muitos, meus irmãos José, Maria Augusta e Pinho Gomes, meus primos Antônio Eufrasino, Aloísio (in memoriam), Joaquim e Expedito. Em Ipueiras, no período da adolescência, foram bons companheiros, entre outros, Edésio, Lutim, Marcos Frota, Marcone (in memoriam), Geraldinho e José Saraiva. Na época em que minha família residia em Ipueiras, nos anos de 1948 e 1949, frequentei o catecismo da paróquia e o grupo dos acólitos. Esta aproximação com as atividades religiosas no catecismo e no grupo de acólitos e a influência dos seminaristas contribuíram de forma decisiva para minha entrada no Seminário. Em 1950, no dia 08 de fevereiro, ingressei no Seminário São José, da Betânia, em Sobral. Foram seis anos de intensas atividades estudantis com proveitoso aprendizado. Conduzido e guiado por uma equipe experiente de sábios e qualificados mestres, concluí, em 1955, junto com outros colegas, com sucesso, o curso ginasial e o curso de humanidades. 
Tive o privilégio de estudar numa escola muito bem dirigida por professores competentes como Mons. Sabino Guimarães Loiola, Mons. José Gerardo Ferreira Gomes, Mons. Joaquim Arnóbio de Andrade, Pe. Manoel Edmilson da Cruz, Pe. Francisco Austregésilo de Mesquita, Pe. Osvaldo Carneiro Chaves, Pe. José Lourenço Araújo, Professor Mariano Rocha, Pe. Moésia Nogueira Borges, Mons. Tibúrcio Gonçalves de Paula, Pe. Marconi Freire Montezuma e ainda outros. O Seminário da Betânia foi para mim e para os meus colegas uma verdadeira escola. Ali recebíamos não apenas conhecimentos das ciências exatas e humanas. Éramos formados para a cidadania e para a vida. 
Quase todos, com raras exceções, galgaram lugar de destaque na sociedade como advogados, engenheiros, médicos, padres, escritores, professores, bancários etc. Modelar casa de formação, o Seminário marcou profundamente a vida de todos os seminaristas tanto os que chegaram ao sacerdócio quanto os que desistiram para seguir outros caminhos. Guardo profundas e saudosas recordações do velho casarão onde a formação se caracterizava por uma disciplina rígida, mas com objetivos bem claros, tendo em vista o bem do educando. Causava-me muita admiração a presença frequente de Dom José no Seminário. Ele acompanhava pessoalmente o processo formativo. Recordo-me bem do momento em que ele compareceu à minha classe, 2º ano ginasial, para examinar a nossa turma, acusada de baixo rendimento na língua latina. 
Fomos testados por ele e as respostas corretas às suas perguntas desfizeram a informação infundada que lhe causou certo aborrecimento. Aproveitávamos também suas visitas ao Seminário para conseguirmos, vez por outra, um feriado extraordinário. Não era uma tarefa tão difícil. Bastava recorrer ao Pe. Palhano, a quem Dom José muito estimava, e o bispo com duas pancadinhas na sineta fazia a alegria da “galera”. Alguns momentos da vida do Seminário jamais serão esquecidos. A vestição da batina preta com a faixa azul e o colarinho eclesiástico, a memorização das orações em latim, o silêncio absoluto nos salões de estudo, nos dormitórios e nos corredores quando nos deslocávamos de um lugar para outro, os cânticos “Salve Regina”, “Sub Tuum Praesidium”, “Virgo Maria” e “Mitte Domine” ficarão para sempre na minha memória. 
 A vida comunitária destacava-se pela harmonia e pela fraternidade. Havia naturalmente alguns contratempos, mas os colegas eram geralmente solidários e amigos. Durante os meus seis anos de Seminário, foram muitos os companheiros: José Feliciano, Francisco Silveira, Luizito Dias, Sebastião Messias, João Batista Frota, Joaquim Castro, Jairo Linhares (in memoriam), Manoel Valdery, Antônio Edvar, Manoel Valdecir e tantos outros. Fazendo uma retrospectiva de meu tempo de seminarista, percebo que alguns fatos influenciaram positivamente a minha vida, mas o que mais me marcou no Seminário foi a sua própria organização. O Seminário da Betânia, visto sob os diversos aspectos formativos, era uma verdadeira casa de formação. 
A disciplina, o tempo organizado de estudo, os momentos de lazer e a vida de oração tudo contribuía para bem formar os jovens como cidadãos e candidatos ao sacerdócio. Fui ordenado sacerdote, no dia 06 de janeiro de 1963, em Poranga, por Dom João José da Mota e Albuquerque, 2º bispo de Sobral. Exerci as funções de vigário cooperador da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Acaraú, em 1963. Assumi a Paróquia de Aracatiaçu no período de 1964 a 1976. Dirigi a Paróquia da Catedral de Sobral de 1976 a 2012. Minhas atividades não se restringiram aos trabalhos pastorais. Exerci também o magistério como professor de ensino fundamental, médio e superior. 
O trabalho, os compromissos e a missão não me fizeram esquecer os momentos de lazer. Gosto de praia, esporte, música e viagens. Conheço quase todo o Brasil. 
Já visitei alguns países da América Latina. Percorri rapidamente toda a Europa Ocidental e tive a alegria de conhecer Israel e Grécia. 
Atualmente sou pároco emérito da Catedral, capelão administrador da Capela de Cristo Rei na Paróquia do Patrocínio e Vigário Geral da Diocese de Sobral. Resido na Rua das Dores, 68 no centro de Sobral. Lúcido, ainda bastante disposto, continuo vivendo, com alegria, minha missão de evangelizador. “O Senhor me ungiu. Enviou-me para anunciar a Boa Nova (Is 61,1).”  


             
Gonçalo Pinho Gomes, sacerdote, betanista. Este artigo está no livro SEMINÁRIO DA BETANIA-AD VITAM-65 Declarações de Amor, de Leunam Gomes e Aguiar Moura- Edições UVA

 Postado por Artemísio da Costa 

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